O ENCANTADOR DE ONDAS

O mar que vejo a minha frente me traz lembranças de uma vida vivida em parte tendo a praia como cenário do desenrolar do tempo até o presente. Lembro-me da infância brincando na areia sob o sol forte construindo castelos e poças de água onde torrava por horas até voltar a casa para o banho, almoço e um cochilo para recobrar as energias. O som das ondas quebrando na praia era uma melodia maravilhosa a ninar meu sono de criança. Assim fui crescendo admirando o mar, vendo suas cores mutantes de verde, azul, cinza e outras.  Durante todo o dia contemplava as ondas do mar e podia vê-las mudar ao sabor das marés e dos ventos. Era algo que me encantava assistir aquele movimento das águas encostando na areia com espumas delimitando as fronteiras entre os maiores componentes do planeta terra. A praia mudava de acordo com as marés e ficava com uma paisagem diferente a cada dia. Podia vê-la plana, com desníveis e com formações lembrando canyons. Por muitas vezes ouvia dos adultos a respeito da influência das fases da lua nas marés e pensava como poderia ocorrer aquilo, não tinha a mínima ideia. Mesmo criança, passei a me interessar pelo assunto a ponto de criar locais de referência na praia reconhecendo na paisagem as alturas máximas e as mínimas das marés. As maiores delas chegavam a beira das casas e as menores ficavam além de algumas rochas marinhas. Nas aulas de geografia na escola, aprendi que a Lua não era responsável sozinha pelas marés. Os movimentos de subida e descida do nível do mar também sofriam a influência do Sol. Era um novo conceito que assimilava. A terra atrai a Lua e a faz girar ao seu redor, em contrapartida a lua atrai a Terra, todavia com pouco efeito sobre a massa sólida dos continentes, mas afetando os oceanos em função da maleabilidade da água. Ainda soube que todos os dias a influência lunar gera duas marés altas quando o oceano está de frente para a Lua e em oposição a ela, e, duas baixas nos intervalos entre as altas. Foi incrível saber que o Sol mesmo mais longe influi no comportamento das marés tendo metade da atração gravitacional lunar. Na adolescência passei a querer conhecer cada vez mais o mar e estudei a influência de cada fase da lua sobre as marés. Na lua nova quando a Terra, a Lua e o Sol se alinham, a atração gravitacional exercida pelos dois astros sobre os oceanos se soma. É época das maiores marés altas. Na lua minguante ocorre a diminuição da influência do sol e da lua nas marés, na noite em que a metade da lua está visível a atração atinge o seu menor valor. Na lua cheia ocorre novamente o seu alinhamento entre o sol e a terra, voltando as marés máximas. A lua crescente faz um ângulo de 90º com o sol e nessa situação a gravitação lunar se opõe a solar ocorrendo marés mínimas. A partir desses conhecimentos acompanhava o comportamento das marés ao longo do mês de acordo com o estágio da lua, e daquela maneira me sentia um encantador de ondas, pois, apreciava o banho de mar calmo nas marés mais baixas, as quais sabia quando iriam ocorrer. Um pescador, amigo da família, no entanto, tinha a sua versão para as marés. Ele dizia que a lua era uma parte da terra que se separou para virar um planeta. A terra não permitiu a separação e segurou a lua com cordas invisíveis. Assim, se estabeleceu uma peleja permanente onde a lua busca se libertar das amarras havendo puxões tanto de um lado para o outro provocando as marés. Depois da estória do pescador chegava a ver as cordas amarrando a lua cheia nos raios de luz emanados pelo nosso satélite natural. Naquele tempo de juventude as marés altas traziam ondas magnânimas e eu as podia olhar da praia e admirar toda a sua força e beleza. Era um misto da ciência e da estória do pescador que tinha a lógica da gravidade chamada de cordas invisíveis. Naquele tempo eu me encantava com o mar e suas ondas furiosas que preferia ver de longe. Pude construir um lar em frente ao mar e ter um espetáculo permanente, no nascer do sol e da lua, ao ver arrebóis com cores fantásticas, ao olhar a arrebentação com suas espumas e a noite admirar reflexos do luar e das estrelas, e poder seguir encantando as ondas como fazia na infância