MUNDO DE FADAS

 

Comecei de uma hora para a outra a ter a sensação de que todos os seres humanos eram bonecos. Aquela situação começou quando assistia a um filme na televisão e todos os atores pareciam agir como marionetes. As faces dos atores pareciam estar sem movimentos e o olhar era sempre fixo. Após o filme cai em sono profundo. Na manhã seguinte, percebi que a minha própria imagem no espelho estava diferente, o meu rosto parecia estar mais rosado e os cabelos com uma cor avermelhada. Aquelas imagens me deixavam perturbado, será que estava enlouquecendo? Pensava a toda hora. Em certo momento tudo parecia estar se transformando num mundo de fantasia, os carros ficaram arredondados e com cores fortes. As ruas foram ficando coloridas, as árvores maiores e com flores e frutos mais coloridos. Parecia estar vivendo num desenho animado, entretanto, tudo permanecia como dantes. Os velhos problemas do mundo afligiam a sociedade como a pobreza e as guerras. Chegava a achar engraçada aquela situação, no entanto a cada dia as coisas ficavam mais acentuadas. Era preciso achar uma solução para aquela nova visão de mundo. Percebia estranhamente que as pessoas não vivenciavam aquela mudança. Cheguei a conversar com amigos a respeito do mundo peculiar ao qual estava inserido, mas não escutava uma resposta que me satisfizesse. Alguém me indicou um psiquiatra. Com o passar do tempo, as coisas começaram a ficar difíceis. As comidas com aspecto de desenho animado, com formatos e cores estranhas, não me davam apetite. Passei a estranhar as roupas. Os sapatos ficaram maiores e arredondados. Os paletós e casacos pareciam aqueles de palhaço, tudo muito folgado. Os corredores e paredes eram curvos. Os prédios se mostravam deformados, tinham a aparência de meias luas e de folhas ao vento. Aquilo tudo era um pesadelo no qual eu não conseguia sair. Passei a procurar uma saída a qualquer custo. Para tanto, fiz uma cronologia dos acontecimentos aos quais passei até chegar àquele ponto. Lembrei, que por ser admirador da literatura fantástica, li um conto intitulado Mundo de Fadas, no qual, dentre outras passagens, brinquedos ganharam vida após serem atingidos por um raio de luz disparado pela varinha de condão de uma fada. A continuação da estória teve como sequência a sua elevação a uma grande altura. Naquele ponto, disse, que iria transformar o mundo numa grande fantasia, pois, assim, a humanidade seria feliz. Concluiu, afirmando que a realidade seria extinta e tudo seria um grande conto de fadas. Naquele momento, um mago vestindo uma túnica e portando barbas compridas surgiu flutuando a poucos metros da fada. O mago argumentou que a destruição da realidade faria com que os seres míticos desaparecessem no novo mundo. O que seria de nós, questionou? A fada baixou a cabeça e acatou o que ouviu. Depois respondeu que seria melhor que os contos de fadas permanecessem nos livros, nas lendas, na imaginação, nos filmes, etc. De repente, a fada lançou sua varinha de condão para cima até esta desaparecer. No final da estória os dois seres mágicos voltaram para a sua dimensão. No dia da leitura do conto, senti ser atingido por um objeto de poucos centímetros. Olhei para o chão e vi uma varinha sem uma cor definida, mas brilhando em tons prateados. Guardei a varinha no bolso do paletó. Um pouco depois, liguei uma coisa à outra e me veio a ideia insana de que aquela peça minúscula poderia ser a varinha de condão da fada. Em casa retirei o artefato do bolso e pensei em jogá-lo pela janela, mas como estava com muito sono, resolvi colocá-la em cima da cômoda. Quando estava deitado, quase dormindo, apareceu flutuando no quarto uma fada batendo delicadamente as suas asas. Ela falou que veio buscar sua varinha mágica. Ainda surpreso apontei para a varinha com o dedo indicador, e esta foi flutuando até as suas mãos. A fada lançou um pó esverdeado brilhante sobre mim e saiu voando pela janela. No dia seguinte acordei daquela longa noite e tudo estava normal. A vida seguia o seu rumo natural. Até hoje lembro daquele longo sonho. Ele foi tão real que eu parecia viver todos os acontecimentos inusitados que surgiam no dia a dia.