JEAN NO CIRCO
Fiquei muito tempo longe das lembranças de uma estória que um dia escrevi e que não chegou a ser concluída. Os originais dessa estória foram perdidos numa viagem quando me mudei para estudar. De todo o texto que escrevi, consegui buscando no fundo da memória, traçar as linhas do primeiro encontro com uma mulher, da personagem principal chamado Jean com a personagem Valerie. Tudo aconteceu num bordel da sua pequena cidade, local de iniciação dos jovens naquela época distante dos dias atuais. Aquela junção culminou na explosão de uma paixão arrebatadora entre dois seres imaginários. Ainda, exercitando as lembranças me veio à tona a separação dos dois acontecida por ocasião da sua ida a capital para concluir os estudos e fazer uma faculdade. Entretanto, rememoro que houve uma grande vontade do rapaz em levar a sua amada consigo nesta nova etapa da sua vida, mas, as dificuldades da época não permitiram o seu intento. Assim, Jean chegou a capital do estado e logo o concluiu o chamado Ginasial. Depois fez vestibular para Biologia, como desejava, sendo aprovado e entrando no curso superior. Na sua primeira volta a sua cidade natal, Jean procurou por Valerie e não a encontrou. Ela havia sido levada por um estrangeiro chamado John, um engenheiro que veio trabalhar temporariamente numa Usina da Região, e, apaixonou-se perdidamente. Eles foram morar na Inglaterra, país de origem de John. A tristeza de Jean foi aterradora, foram dias de muita tristeza, cujo choro era ouvido por quem chegasse à fazenda onde ele morava com os seus pais. O dono do bordel chamado Cajarana, onde Valerie residia, consolou o desolado Jean, oferecendo-lhe as novidades daquele estabelecimento, mas, nenhuma mulher agradava aquela alma tristonha, mesmo aquelas mais belas e simpáticas. O ambiente boêmio e mágico do Bordel não animava Jean, que ficava insensível a atmosfera permanente de festa daquele local repleto de belas mulheres. A música animava o local com mesas cheias de rapazes e moças a se divertir. Os casais dançavam em movimentos inebriantes que os tiravam do chão e os levavam às alturas em giros fenomenais. Os amigos mais próximos contavam episódios engraçados do pessoal da roça e as aventuras mirabolantes de Dodô Ventura e Bob Patita, mas não havia jeito de melhorar o ânimo de Jean. Nas altas horas da noite era a hora da volta para casa junto com os amigos, momento de lamentação e arrependimento pela falta de atitude junto a Valerie. Ele poderia estar com ela para sempre, repetia. Depois de alguns dias em casa, era hora de voltar à cidade para continuar os estudos. A vida de estudante o ajudava a esquecer o seu grande amor. Nas horas vagas Jean imaginava como seria a vida de Valerie com o engenheiro Inglês. Será que ela estava feliz? Será que ele a amava? Eram pensamentos que não saiam da sua cabeça. Numa de suas voltas ao interior, Jean se encontrou com a sua prima Maria, uma paixão de adolescência. Os dois começaram um namoro que não progrediu devido ao fato de Jean não conseguir levar o relacionamento adiante. Maria perguntava o que aconteceu com o amor que ele sentia por ela. A resposta foi que seu coração estava ocupado. Durante o curso de Biologia, Jean fez parte de uma companhia de teatro e se encantou com a arte da representação. Sua especialidade no grupo de teatro foi a comédia, e, assim, ele fazia muito sucesso fazendo o público dar gargalhadas intermináveis. Ele resolveu virar palhaço e entrou para um Circo que estava na capital. O circo se chamava Gran Circo Barcelona. Após algum tempo ele fazia parte do grupo principal de palhaços. Ele virou o palhaço Patoca. A vida no circo era, naquele momento, o que Jean queria fazer da sua vida. Estar em locais diferentes encantava o jovem palhaço. O curioso dessa nova situação é que ninguém sabia da sua nova profissão e do abandono do curso de biologia. No circo Jean ficou amigo do mágico Húngaro Sandor, um Senhor de mais de sessenta anos, uma das estrelas da Companhia. O velho mágico fazia mágicas de espantar a todos pela habilidade como ele conduzia os movimentos. Fazia sumir pessoas, objetos e animais e os fazia aparecer em outros locais. A levitação de uma assistente com a passagem de uma argola pelo seu corpo impressionava a quem assistisse aquele truque sensacional. Havia, também, a bola de cristal, onde o Mágico Sandor podia ver informações sobre pessoas da plateia como nome, idade etc. O público ia ao delírio com o tamanho espetáculo. Jean numa atitude de desespero pediu ao mágico que lhe dissesse como estava Valerie naquele momento, mas, a resposta foi que a bola de cristal era mais uma das suas mágicas. Havia no circo a cigana Morgana, que fazia parte do elenco e lia a mão do público. Numa conversa com Morgana, Jean simplesmente pediu para que a sua mão fosse lida por ela. A leitura da mão, entre muitas outras coisas, indicou que Jean iria encontrar um amor perdido. Aquelas palavras trouxeram esperança e forças para ele seguir adiante. Nas apresentações do Circo em muitas cidades Jean sempre observava a plateia buscando Valerie. Cada cidade era uma nova decepção. Assim, entendendo, que sua amada não seria encontrada no Circo, Jean desistiu da vida de palhaço e resolveu voltar ao curso de biologia. Os colegas de trabalho ficaram tristes com a decisão de Jean, mas entenderam os seus motivos. Afinal ele era um jovem que podia redirecionar a sua vida. A Cigana Morgana leu na sua mão que ele teria um futuro promissor. Na juventude fui a um circo e pude ver o palhaço Patoca atuando e arrancando do público gargalhadas sem fim. Também, admirei-me com o mágico Sandor e seus magistrais truques. Tive a minha mão lida pela Cigana Morgana, que destacou uma prodigiosa criatividade. Todos aqueles tipos se incorporaram a estória de Jean, e, fazem parte do seu universo sutil construído a partir da minha vontade de haver vivido o que escrevi nesse texto construído entre a imaginação e a fantasia. A estória de Jean continuou e está na dimensão dos sonhos perdidos. Eles serão buscados nas gavetas da memória, e, tão logo que apareçam, serão revelados em novas linhas.