EM BUSCA DE VALERIE
Continuei buscando nas minhas memórias a estória de Jean, personagem principal de um escrito que iniciei na juventude. Esse texto já contava com algumas dezenas de páginas manuscritas num caderno quando o perdi numa viagem. Reescrevi parte da estória até a volta da personagem principal aos estudos na Faculdade de Biologia, após uma breve passagem pelo circo. A experiência circence lhe fez uma pessoa especial. Ele passou a ser uma atração aonde quer que fosse. Havia sempre um número de mágica, piadas e malabarismos com frutas e outros objetos a ser feito. Pode-se dizer que em função disso, ele era sempre convidado para festas e reuniões dos colegas de estudos e outros grupos de amigos. Num desses eventos, ele conheceu alguns jovens estudantes, e, a partir daí juntou-se a esse pessoal para diversão e o saber. A empatia foi imediata e logo após algum tempo foi iniciada uma forte amizade que durou para sempre. Os novos amigos se divertiam muito, havia sempre uma programação especial como passear nas cidades do interior, visitar praias, montanhas, ou simplesmente se reunir para um bom papo. Era uma turma espetacular que o ajudava a superar a tristeza causada pela perda da sua amada Valerie. Ela saiu do Bordel para o casamento com um estrangeiro quando Jean estudava em outra cidade. Num desses dias, Jean confessou o seu penar ao grupo, que, logo, começou a ajudar ao nobre companheiro a sentir-se melhor. A partir daí, foram-lhe apresentadas bonitas moças que se encantaram com as suas artes e o seu espírito brincalhão. Com o passar do tempo, Jean foi convidado por um amigo para entrar numa sociedade hermética de caráter mundial, com sedes espalhadas pelo mundo. Sem pensar muito sobre aquela possibilidade, aceitou o convite, seria uma ótima chance de obter novos conhecimentos. A sua iniciação naquela sociedade foi feita no templo regional chamado Cidade da Luz, ocasião na qual lhe foram apresentados os mestres superiores. Aquele templo ficava no primeiro andar de um prédio antigo no bairro mais tradicional da cidade. A entrada principal era por uma escada estreita e íngreme que dava acesso ao salão principal ricamente decorado com símbolos esotéricos como pombas, sois, triângulos, dentre outros. O pessoal ali presente vestia uma túnica de cor verde escura e portavam capuzes de cor cinza. Um deles, o Mestre Local, tomou a palavra e começou o seu discurso elogiando o iniciado, realçando as suas qualidades como pessoa, palhaço, estudante brilhante e grande amigo. Por fim, afirmou categoricamente que ele teria um futuro brilhante. Para encerrar a cerimônia, foi-lhe dada uma túnica e um capuz semelhante ao usado por todos. A comemoração daquele feito durou o final de semana inteiro, começando pelo bar Carecão, passando pelo bar Fraternité e terminando no bar Katéspero. Depois disso, Jean passou a fazer parte da Sociedade, sendo convidado para reuniões, na sua maioria, sem a presença dos amigos originais. O tempo passou e o Curso de Biologia foi concluído. Em seguida, ele passou numa seleção para fazer pós graduação na Inglaterra, país onde Valerie residia. Aquela seria uma chance de encontrar seu grande amor, arquitetava. Passaram dois anos e Jean concluiu o mestrado em Biologia e era hora de voltar. Esse período foi de muito estudo e de viagens por aquele país. Em todas as cidades visitadas havia sempre o intuito de encontrar Valerie. Os passeios pelos recantos turísticos e pitorescos eram acompanhados por uma busca permanente por sua amada, mas, foi tudo em vão. Apesar de todo esse esforço, não foram encontradas pistas sobre o seu paradeiro. A única notícia era o seu casamento com o engenheiro inglês e a sua possível moradia no país do seu marido. Nos sonhos, Jean podia estar com Valerie em momentos irreais e fora de controle, havendo sempre um final de desencontro e tristeza, situação em que o deixava mais inconformado com aquela perda. Num desses sonhos, Valerie apareceu como bailarina de um circo atuando numa coreografia onde ela descia desenrolando de um grande lençol vermelho e se lançando numa cortina de fumaça branca, cortada por jatos de luzes coloridas, até desaparecer completamente. Talvez aquele sonho fosse uma pista deixada para um encontro futuro, pensou. Na volta aconteceu um encontro memorável com a turma de amigos. A comemoração se estendeu até a cidade natal de Jean, onde eles se divertiram muito na fazenda e nos locais de festa, incluindo o estabelecimento do Cajarana, local de profundas recordações. Aquele ambiente continuava mágico com muita gente se divertindo. A meia luz somada aos quadros impressionistas apresentando belas mulheres e cenas de boemia davam um toque especial. Os casais dançavam e saiam do chão em coreografias magistrais. Ali brotavam amores eternos como o de Jean. O término da pós graduação iniciou uma nova etapa na vida de Jean. Foi o início de uma vida profissional brilhante, talvez muito superior ao que ele imaginasse para a sua vida. Nos escritos originais, escrevi muito mais do que isso sobre essa fase, principalmente, das suas aventuras com os amigos, ricas de episódios curiosos e engraçados, além das suas descobertas junto a sua Sociedade sobre filosofia e o sentido da vida. A sua passagem pelo exterior foi contada apontando as impressões sobre o novo mundo a ele revelado e a sua interação com tanta novidade. Escrevi, também sobre os sonhos surreais que ele teve tendo Valerie como personagem principal. O que me estimula é que posso reescrever o que fiz e quem sabe não somar alguns detalhes extraídos da minha vivência a futuros escritos.