AS MARIPOSAS DO ALÉM
O fim do dia se aproximava e eu da varanda observava o mar. As cores variavam de azul marinho a vermelho e o dia logo desapareceu. A noite chegou e as estrelas começaram a dar vida ao firmamento. Sentado na minha cadeira de palhinha contemplava o jardim com alguma grama e plantas em vasos brancos. A iluminação vinha de um poste na rua. Admirei um voo rápido de uma mariposa marrom com pintas amarelas nas suas asas até a sua acomodação num caibro, ficando ali inerte, como parte da estrutura do telhado. Para minha surpresa, saiu do jardim uma outra mariposa. Esta de cor azul e todas as extremidades pretas. Um exemplar de rara beleza para se admirar de longe. Esta segunda mariposa atravessou toda a varanda, fez uma meia volta e seu juntou a segunda. Ficaram, assim, os dois belos exemplares juntos e parados. A luz da varanda estava apagada e eu a acendi. As mariposas alçaram voo e seguiram em direção a luminosidade e lá ficaram por um bom tempo voando em círculos ao redor da luminária. Ao entrar apaguei a luz e pude ver as duas mariposas se acomodarem dessa vez na parede e lá ficaram. Na manhã seguinte os dois exemplares não estavam mais naquele espaço. Certamente se mudaram para outro local. Os dias anteriores haviam sido quentes e havia chovido, motivo para a aparição de mariposas. Soube que esses belos seres podem liberar substâncias irritantes à pele e aos olhos, motivo para ter-se cuidado com elas. Na tarde seguinte apareceu na varanda uma borboleta, um espécime amarela com marcas pretas nas asas. A borboleta quase que em movimentos de sobe e desce passeou pela varanda, depois foi ao jardim, e foi embora em direção ao mar até sumir no horizonte. Que belos seres da natureza, pensei alto, embora parecidas, elas são diferentes. A natureza se dá ao luxo de fazer as diferenças entre seres tão parecidos. No início da noite fiquei esperando as mariposas voltarem a minha varanda e naquele dia elas não apareceram. Mais tarde daquele dia chegaram a minha casa Seu Dantas e o marujo Chimbau. Que bom receber visitas tão ilustres, seria um bom papo com muito combustível para os meus escritos. Comecei falando das belas mariposas que pousaram na varanda na tarde passada. Salientei os dois belos exemplares, uma azul e outra marrom que se acomodaram juntas e correram para a luz. Seu Dantas imediatamente explicou que as mariposas são seres que cruzam as dimensões do universo com grande facilidade. Elas são do além, afirmou. É muito comum uma mariposa anoitecer numa parede e sumir no dia seguinte. A forte atração que elas sentem por luminosidade se explica pela semelhança com os caminhos interdimensionais. Completou dizendo que quando elas são mortas podem ficar no local energias estranhas, até que apareça outra mariposa para absorvê-las, muitas vezes, causando fenômenos que podem ser chamados de assombração. O marujo Chimbau completou a explicação agora falando das borboletas que fazem ao contrário, elas trazem energias positivas para este plano. Ele contou que é muito comum em alto mar aparecer do nada nuvens de borboletas que se dirigem à praia. Seu Dantas voltou ao assunto das mariposas relatando a lenda do homem mariposa que aparece para avisar a iminência de acidentes. Seus ancestrais índios contavam que esta figura lendária aparecia nos momentos de grandes problemas como incêndios, secas, enchentes e as vezes invasões de outras tribos. Cabia ao Pajé da tribo decifrar a mensagem da aparição. Chimbau lembrou das bruxas que se transformavam em mariposas com a finalidade de adentrarem locais inacessíveis, pois, podiam voar e eram resistentes aos ataques do ambiente. Foi uma aula sobre a mística em torno das mariposas. Realmente, nunca tinha ouvido falar daquilo tudo o que ouvi. Mas, por outro lado, esses amigos sempre têm uma estória para contar. Nesse contexto, percebi, um dia, a enorme confusão feita numa casa vizinha quando uma mariposa entrou num dos seus cômodos. A dona da casa com uma vassoura na mão expulsou a mariposa da sua casa. Esta veio e se acomodou na minha varanda. A explicação para a reação das pessoas quando se deparam com esses dois seres, belos e semelhantes, parece se basear nas estórias que escutei. As borboletas significam bons agouros e as mariposas significam assombração. Essa é mais uma estória que aprendi para os arquivos fantásticos da minha vida. Vou observar as mariposas e borboletas e quem sabe não escrevo algo sobre algum fato marcante sobre esses belos seres.