A FADINHA VERDE
Estavam os jovens Lula, Lamare, Didi e Castilho no Bar Taboleiro da Baiana degustando no início da tarde uma cerveja gelada quando passa o tocador de rabeca Dedé. Lamare o convidou para se juntar ao grupo e este pediu uma água, pois não bebia. Lamare pediu para que fosse tocado o clássico Royal Cinema. Imediatamente a rabeca foi colocada no seu ombro e o show começou. Sua aparência mudou e ele passou a ter um ar de quem não estava no seu juízo normal. Didi por um instante se afastou da mesa e voltou tocando o seu sax enquanto caminhava, passando a acompanhar a rabeca na execução de tão bela obra de arte. Todos da mesa se admiraram com a beleza do espetáculo musical. Lamare comentou sobre a habilidade de Didi no sax. Sua elegância dava um toque todo especial aquele show improvisado, salientou Castilho. O amigo Zé Naldo chegou ao local e ficou admirado com o desempenho dos dois músicos. No encerramento da melodia, Zé Naldo convidou a todos a tomarem lugar no seu iate estacionado no cais no final da rua. Os convidados deixaram o bar e seguiram à pé até lá. O marujo Chimbau veio receber os convidados, e, um a um, todos foram se acomodando no iate que não passava de uma jangada. A vela foi içada e começou o trajeto até o dito castelo de Zé Naldo na Praia de Blujabu. O sol estava forte e o ceu com poucas nuvens marcava a paisagem. O rio desembocando no mar estava com uma cor azul safira. O bar da jangada era um depósito de isopor surrado, já com a tampa quebrada e muito gasto pelo tempo. De lá foram retiradas duas garrafas, uma de cachaça e outra de absinto. A cachaça foi servida pelo Sir Zé Naldo como um puro Blandy inglês e o Absinto era realmente irlandês, presente de um amigo. As bebidas foram servidas em copinhos de cachaça, no entanto, pareciam copos de cristal na cabeça dos nossos aventureiros. Durante a conversa Dedé falou que a rabeca foi um presente de uma fada chamada Iris, que, também, lhe ensinou a tocar. Didi confessou que o sax foi um devaneio que deu certo. Aquele instrumento lhe dava um prazer maior do que a advocacia, sua grande paixão. O seu professor de sax era um músico da banda municipal que se apresentava no coreto da praça da área antiga da cidade, um gênio musical na sua opinião. Todos beberam cachaça e absinto menos Dedé. Na entrada da barra para o mar surgiu a nau do Comandante Rifoles, que, de longe, com um forte sotaque francês, convidou a todos a entrarem no seu barco. Um barquinho a remo veio apanhar a tripulação que logo estava acomodada no escritório do comandante na embarcação. Todos passaram a conversar freneticamente. Jaques Rifoles comentou que era um prazer estar com gente de tão elevada estirpe. Não era todo dia que ele estava com poetas, escritores e músicos. É muito bom encontrar com vocês e ter com quem conversar, esse ofício de comandante das possessões francesas, às vezes, me deixa entediado, preciso voltar a Paris, desabafou. No final do encontro uma fadinha verde de meio metro de altura apareceu batendo as suas asas e numa voz feminina metálica disse a Dedé que uma velha amiga queria lhe rever. De repente, apareceu a fada Iris que parabenizou Dedé pela sua música de alta qualidade. Dedé começou a tocar o Bolero de Ravel até as fadas sumirem no ar. Era hora de seguir para Blujabu. Chimbau arrumou a jangada e todos seguiram o caminho marítimo até a praia. No castelo, que na verdade era uma tapera, seguiu-se o encontro musical com músicas tocadas por Dedé acompanhadas pelo sax de Didi. Ao por do sol os dois músicos tocaram a valsa Danúbio Azul. A fadinha verde e a fada Iris apareceram e flutuavam ao redor dos amigos. No encerramento da bela valsa, Dedé foi içado ao ar até a altura das duas e a fada Iris se despediu de todos dizendo que ele iria fazer um passeio no seu Reino. As três personagens desapareceram no ar. Nessa altura da farra, era hora de parar, Castilho se encostou num tronco de coqueiro e foi dormir. Os outros companheiros entraram na tapera, se acomodaram em tapetes de palha e, também, foram dormir. No dia seguinte todos sentiram a falta de Dedé. Zé Naldo lembrou que ele havia sido levado pelas fadas para um reino distante. A ressaca não permitia que fosse feita qualquer análise racional sobre os acontecimentos. No trajeto da volta a turma foi tomar café da manhã no Mercado da Praia da Pontinha. Uma música de rabeca foi ouvida e lá estava Dedé tocando com aquele olhar de quem estava distante do seu corpo físico. O estranho é que a música estava demorando muito para terminar. Lamare, assustado, jogou água no rosto do tocador de rabeca, que, assim, acordou de um transe relatando: estou de volta, e, prontamente se juntou aos amigos para o café da manhã. Lula brincou afirmando que ele parecia estar em vênus. Dedé respondeu que estava num Reino distante tocando para a fada Iris. A fadinha verde apareceu flutuando em cima da mesa e lançou da sua varinha de condão pequenas estrelas de luz em todos os amigos. Ainda, antes de desaparecer, disse, que desejava que todos fossem felizes. Mais tarde um brinde com absinto foi feito em homenagem a fadinha verde, que nunca mais foi vista e até hoje é lembrada por todos que a conheceram.